O Senado volta a discutir e pode votar, o novo Código Eleitoral, uma proposta ampla que reúne quase 900 artigos e traz alterações importantes no processo político brasileiro. Entre elas, a que mais chama atenção é a volta do voto impresso, a ser conferido pelo eleitor e depositado em urna física para eventual auditoria.
Esse debate não é novo. Quando estive deputado federal, votei favoravelmente à implantação do voto impresso. À época, o tema acabou não avançando. Hoje, com mais maturidade institucional e em um cenário de polarização crescente, acredito que esta mudança representa muito mais do que um detalhe técnico: trata-se de um investimento em democracia.
Não é aceitável que parte da sociedade siga questionando a legitimidade das eleições. O sistema eletrônico brasileiro é seguro e já provou sua eficiência ao longo de quase três décadas. No entanto, confiança eleitoral não é apenas uma questão técnica — é também uma questão de percepção social. Se há uma parcela relevante da população que não reconhece os resultados, o risco de fraturas institucionais cresce.
O voto impresso, portanto, pode ser a ponte para a pacificação. Ele oferece uma camada simbólica de transparência, visível aos olhos do eleitor, que se soma à auditabilidade já existente nas urnas eletrônicas. Ao permitir que a sociedade veja seu voto materializado, cria-se um elo de confiança capaz de neutralizar narrativas de fraude e fortalecer a unidade nacional em torno da soberania popular.
Evidentemente, sua implementação exigirá investimentos financeiros, ajustes logísticos e cuidados para preservar o sigilo do eleitor. Mas, diante do custo social e político de eleições constantemente contestadas, trata-se de um preço pequeno a pagar. Afinal, o que está em jogo não é apenas a contagem de votos, mas a legitimidade do próprio regime democrático.
O Brasil precisa superar a divisão em torno do processo eleitoral. O voto impresso, aliado à urna eletrônica, pode se tornar o instrumento de reconciliação que faltava. É hora de apostar nessa mudança, não como retrocesso, mas como passo adiante em direção à confiança plena da sociedade no resultado das urnas.
Jeronimo Goergen
Advogado, ex Deputado Federal
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