Há coisas no futebol que fogem do desenho tático, do scout, da análise fria que o torcedor moderno adora consumir. O drama vivido pelo Internacional nesta temporada é um exemplo perfeito disso. O clube parecia condenado, desconectado de si mesmo, preso num espiral de erros administrativos, técnicos e emocionais. Até que, no meio do caos, um nome apareceu como âncora emocional: Abel Braga. Além de técnico em campo, o símbolo — a aura, o peso moral, a ligação quase espiritual com o vestiário colorado.
O Inter foi salvo por diversos outros aspectos maiores que os sistemas de jogo. Foi salvo por ajustes miraculosos. Foi salvo por algo mais intangível: por um resgate de identidade. E é impossível falar de identidade colorada sem falar de Abel. O simples fato de o clube buscá-lo — ainda que neste papel atual, mais institucional do que técnico — mexeu com o ambiente. Mexeu com os jogadores. Mexeu com o torcedor. O vestiário, que parecia rachado e sem rumo, encontrou uma figura capaz de centralizar emoções, baixar a poeira e fazer o grupo lembrar do tamanho que o Inter tem.
Nada disso apareceu nas rodadas anteriores — porque o Inter perdeu, tropeçou e parecia fadado a cair. A mudança real, quase inexplicável, veio nos últimos 45 minutos da temporada. No segundo tempo decisivo, quando já não havia margem, quando o fantasma da Série B rondava o Beira-Rio como nunca, o time entrou em campo carregando justamente esse elemento invisível. Além da tática. Além do “modelo de jogo”. Era a presença de Abel, o senso moral de não permitir que o clube caísse sob o olhar dele. E isso pesou. Isso mexeu. Isso transformou.
O Colorado escapou sem muita folga, sem muito brilho, mas escapou. E se há um nome que sintetiza esse momento, é o de Abel Braga. A aura dele, a história dele, o peso emocional que carrega… tudo isso entrou em campo naquele último segundo tempo. E, numa temporada caótica, foi justamente esse elemento invisível que impediu que o Internacional escrevesse o capítulo mais sombrio da sua história recente. Porque, no fim das contas, o Inter pode até tropeçar, mas com Abel por perto, nunca cai sem luta.
foto: SC Internacional/Reprodução
